sexta-feira, 18 de março de 2011

Repensando o Espaço do Homem na Atualidade

Vivemos na era da globalização, do acelerado crescimento científico e tecnológico, da universalização da sociedade, do capital virtual, de uma demanda por bens de consumo proporcional ao crescimento populacional e ao acúmulo de riquezas e bens materiais. Vivemos as regras ditadas por um sistema que visa à obtenção de lucros em detrimento da exploração dos recursos naturais e da alienação (forma de expropriação) do homem, do qual o separa não só dos meios de produção e do fruto do seu trabalho, mas que mexem nos seus referenciais impondo valores e costumes conforme os seus interesses, utilizando-se para isso de um conjunto sistemático de idéias que distorce, camufla, oculta a realidade – ideologia do consumo – mediatizado pelo comércio e que produz adesão, com o objetivo simplesmente de alienar, fazendo com que o ser humano não se reconheça no que é, no que faz, enfim retirando dele a sua condição humana, a sua liberdade de ser, a sua essência, aquilo que o caracteriza, que o identifica, que é próprio do seu ser. E ele não possuindo uma ideologia própria e positiva não consegue enxergar a realidade e consequentemente as suas potencialidades enquanto ser construtor de sua própria história e do seu espaço. Essa ideologia, que precede o modo de produção, mundializa o econômico, alienando não só o homem, como também o próprio espaço do homem. Essa é segundo Milton Santos (1997, p.15) “uma forma de universalização que altera as dimensões geográficas da atividade humana, tornando o mundo como um espaço global do capital, agravando as disparidades tecnológicas e organizacionais entre lugares e acelerando o processo de concentração econômica e geográfica.” O espaço torna-se então mercadoria universal. Trata-se de uma fase inteiramente nova da humanidade denominada por Milton Santos (1997, p.11) como “Período Tecnológico” que tem como grande veículo de afirmação histórico, segundo Ele, as empresas transnacionais, instrumentos de concentração e acumulação, responsáveis pela universalização “perversa” característico da vida mundial nos dias atuais, que mundializa o consumo, das trocas e do mercado do capital sob todas as suas formas e, do trabalho, tendo como importante aliado o próprio Estado.
O homem “evoluiu” enquanto ser pensante e, “evoluiu” também a sua capacidade de intervenção no espaço em busca da satisfação de suas necessidades e desejos. E tudo isso gerando grandes riquezas que se concentram nas mãos de poucos e, a grande maioria da população vive os dramas da pobreza, da miséria, da fome, da falta de esperança de uma vida melhor, enfim excluídos da participação efetiva na vida social. É o acúmulo de riquezas produzindo um acúmulo de problemas ambientais que comprometem o futuro da humanidade e, que se multiplica proporcionalmente à exploração e acumulação, acumulação esta que não depende mais exclusivamente da produção, mas que depende do consumo que acarreta a produção. E os maiores problemas são sentidos pelos países subdesenvolvidos, problemas estes que vão desde exportações e importações nocivas à economia nacional, superexploração da dos recursos naturais, sociais e força de trabalho, desemprego e empobrecimento relativo e absoluto. E, acompanhamos o descaso para com a vida humana, “graças à tecnologia”, do sofá de nossa casa, como cenas comuns, inquestionáveis.

Em meio a essa crise civilizatória surge um novo homem, mas com velhos problemas, ainda guiado pelo senso comum, agora “mais moderno”, mas possuidor da mesma visão ingênua do mundo, acorrentados a falta de reflexão e ao comodismo.
Segundo Milton Santos, estamos em uma fase de transição entre o período da tecnologia e um novo período histórico. Segundo ele, o sistema internacional será remanejado e a natureza dos Estados transformados e, haverá uma mudança na estrutura global da produção e consequentemente da organização do espaço.
Devemos, portanto, abrir os espaços da nossa mente para a luz do pensamento crítico. Precisamos refletir, questionar os fatos de maneira mais profunda, deixar de aceitar a superficialidade como se fosse a totalidade e deixar que a compreensão do todo dê sentido ao nosso entendimento. Precisamos pensar o espaço do homem na atualidade, atualidade essa que segundo Milton Santos tem dupla dimensão (espacial e temporal; repensar sobre os novos fatos geográficos; refletir sobre a representação do passado no presente, pois o momento passado está morto enquanto tempo, mas não como espaço; entender o presente como histórico, identificando as relações de causa e efeito que definem os fatos, sua organização na formação de um sistema, na formação de um modo de produção e da transição entre um modo de produção e outro.
Precisamos ir além da notícia, sermos mais rápidos do que a linguagem rápida da mídia, combatendo a propaganda ideológica a serviço do capital; descobrir onde estão as verdadeiras fontes do terrorismo e como são tratadas; ter ciência que temos uma nova ordem mundial, uma globalização em rede que gera migrações, afeta o meio ambiente, gera corrupção, narcotráfico, lavagem de dinheiro, terrorismo, desemprego, pandemias, etc; que temos uma nova agenda e novos autores, na qual entidades não estatais assumem funções de Estado, entidades que não possuem território, estrutura, população, etc. Precisamos ter a clareza das intenções do mercado internacional e repensar o espaço construído historicamente pelas sociedades em suas relações. E assim, “Podemos não mudar o mundo, mas podemos mudar o modo de vê-lo, preparar os alicerces para um espaço verdadeiramente humano”. (SANTOS, 1997. p.26)

Referência Bibliográfica
SANTOS, Milton. Pensando o Espaço do Homem. 3ª ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1997.

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